quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FAMILY........ FAMILY
















MARIA GRIPE - GRIPADA, PRA VARIAR.


Foi chegando o início da noite e eu fui me sentindo gripada novamente. O mal-estar que para mim já estava se tornando tão comum - o que não diminuía em nada o meu desespero, ainda mais não estando em casa, nem ao menos, perto.
No dia seguinte bem cedo, resolvi procurar uma farmácia homeopática. Perguntei a todas as pessoas desconhecidas que já havia conhecido por ali, e acabei encontrando uma perto do hotel.
Entrei e uma moça com um guarda-pó branco veio me atender. Comecei a tentar explicar a ela os meus sintomas. Ela me disse que chamaria o farmacêutico, o dono da farmácia. Agradeci com um “muchas gracias, muy amable” e aguardei quase sem conseguir me equilibrar de pé.
A moça voltou de uma sala apoiando um senhor que devia ter uns 70 anos e que andava com uma bengala. Pensei que era outro paciente, que como eu, havia ido pedir ajuda.
Ela me chamou para passar para dentro do balcão e me colocou sentada em frente ao senhor, que agora de perto, pude perceber, era cego. Ele era o dono.
Fiquei sem saber o que fazer, teria que explicar de novo os meus sintomas sem falar fluentemente o idioma e para um homem que não podia ver os meus gestos.
Bem, começamos a nossa conversa bem devagar, do meu problema até chegar no filho dele, que tinha ido passar a lua de mel no Brasil.
Ele pediu que a mocinha de guarda-pó formulasse três compostos para mim. Devia tomá-los várias vezes ao dia.
Quando ficaram prontos, ele olhou pra mim com seus olhos cegos e me perguntou tranquilamente se eu, em algum momento, tinha percebido que ele era cego. Dei um sorrisinho com a voz, queria demonstrar naturalidade, e respondi que só tinha notado porque a mocinha do guarda-pó teve que guiá-lo até ali. Falou que tinha ficado cego alguns anos atrás por causa de um tumor, mas que tinha certeza de que iria voltar a enxergar. Falei que ele deveria continuar tendo muita fé em Deus e acreditar mesmo em sua cura.
Agradeci por tudo, apertei carinhosamente as mãos dele com as minhas duas mãos, paguei pelos remédios e fui embora. Outra pessoa já estava aguardando para ser atendida.
Após 3 dias seguindo a sua prescrição médica, melhorei bastante.
Antes de voltar para o Brasil, vou procurá-lo novamente.....quero levar mais um pouquinho de sua esperança para casa.

12 de outubro de 2005 – Córdoba -Ar


Um dia, Clarice falou que estava preocupada com a gripe aviária que já tinha chegado à Alemanha e que poderia se espalhar mais facilmente com a copa do mundo, pois milhares de pessoas de todas as partes, provavelmente levariam o vírus junto com elas na volta para casa.
A única coisa que ele falou foi que havia muita gente no planeta e se alguns milhões morressem dessa gripe, não iriam fazer falta.
Clarice nunca mais comeu frango.

06 de março de 2006 - Salvador



Estou gripada mais uma vez. Acho que não existe ninguém que fique mais gripada do que eu. Não consigo passar um ano inteiro sem ter pelo menos umas três gripes. E o vírus da gripe em mim, atinge principalmente o meu estado emocional......fico totalmente desiludida da vida, das pessoas....... agrava todas as minha emoções negativas..............e demora pra sair.
Quando estamos doentes é que descobrimos o quanto somos vulneráveis, não somos nada...............nem corpo nem espírito..................somos apenas uma sensação ruim.

14 de março de 2006 – Salvador

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

ILUSTRAÇÃO PATI 2

Sou uma camareira e hoje estou feliz, encontrei mais um amor. Quando comecei a trabalhar em hotel, tinha acabado de fazer dezoito anos e foi o único emprego que consegui. Tinha que trabalhar. Morava com meu pai em uma quitinete. Ele era vendedor em uma loja de tecidos. Isso acabava comigo. Ver meu velhinho (assim o chamava sempre) com seu cabelo branquinho, tão baixinho, tentando ser gentil, fazendo de tudo para vender um pedaço de pano. Às vezes, me escondia na rua, em frente à loja, e ficava o observando. Via o cansaço em seu olhar, não podia deixá-lo ali. Ele pagava, há doze anos, o tratamento de minha mãe, que estava na casa de uma irmã e que alimentava nele o sentimento de culpa por tê-la deixado doente. Quando eu tinha quase seis anos, meu pai se apaixonou de verdade por outra mulher e saiu de casa. Ele tinha ido ao consultório com minha mãe, grávida de seis meses, quando conheceu a outra mulher e saiu de casa no dia seguinte.

Era um homem de quase sessenta anos, baixinho, de cabelos quase grisalhos, quase compridos – a simpatia em pessoa.
Ela (a outra) tinha vinte e seis anos, com aparência de mais. Estava grávida de oito meses e aguardava para ser atendida.
Ele esperava a esposa sair do consultório – gravidez de risco, quarenta e dois anos.
Se enxergaram. Alguns dias depois, ele estava na sala de parto, segurando nos braços o filho dela (da outra).
Quando saiu de casa, sua mulher grávida, desesperada, tomou dois comprimidos para dormir. Começou a sentir dores fortes no pé da barriga. Não reagiu. Nem percebeu que coisas saíam de dentro dela. A dor ficou maior. Chamou por Deus.
Ele voltou em casa e ela, seca, tentava amamentar seu filho nascido de seis meses, besuntado de sangue, inteiro e sem vida.

Minha mãe, depois disso, foi perdendo a força. O seu corpo não respondia aos seus pensamentos. Sentiu uma fraqueza progressiva e nunca mais saiu da cama.
Meu pai carrega essa culpa até hoje. A nova paixão não durou mais de dois anos e ele vive sozinho, comigo.
Estudei em colégios públicos, consegui fazer bons amigos. Passava os meus dias cuidando da casa, cozinhando, mas sempre arranjava tempo pra estudar e ler. Em frente ao nosso apartamento tinha uma locadora de livros. Sempre que conseguia juntar dinheiro, pegava algum para ler. Tinha uma relação de amor com os livros e todas as vezes que ia devolvê-los sofria profundamente. O dono da locadora ficou meu amigo e me ensinou muito sobre literatura. Ele me contava sobre a vida de cada escritor – quantos livros tinham escrito, quantos relacionamentos tinham tido, como morreram e, os ainda vivos, o que faziam.
Eu dava banca de português para algumas crianças do bairro e assim conseguia economizar algum dinheiro para alugar os meus amores, mas nunca pude comprar nenhum.
Quando fiz aniversário de quinze anos, o dono da locadora me deu um livro de presente - o que eu tinha gostado mais. Havia locado ele cinco vezes seguidas, só para senti-lo ao meu lado. Era a história de um jovem escritor que vai para uma outra cidade tentar a sorte. A maneira como era descrita a sua vida, os seus pensamentos, os seus temores, os seus sofrimentos, era tão leve, tão simples, que eu me apaixonei.
Quando abri o embrulhinho e vi a capa encardida do meu amor, que tanto já tinha ido e que agora estaria ao meu lado para sempre, descobri a felicidade e acreditei na segurança pela primeira vez.


Pequena, sempre tinha crises de vômito. Quando começava, não parava mais até ser internada e tomar soro na veia. Em todos os exames não aparecia nada. Quando começavam os primeiros sinais do enjôo, sua mãe sempre dava uma chave grande de porta de casa para ela segurar na mão, apertando bem. Era uma superstição. Era para abrandar. Algumas vezes dava certo alívio; em outras, não fazia nenhum efeito. Ela nunca soube qual a relação da chave com o enjôo. Chave que só podia ser de casa. Algo que não sai do lugar, sólido, seguro, garantido....
Firmeza - era isso que ela necessitava na infância.
Não conseguiu. Enjoada viveria para sempre.

Quando fiz dezoito anos, tirei minha carteira de trabalho e fui atrás de emprego em um hotel que ficava perto de casa. Me aceitaram logo, precisavam de uma camareira. Pagavam um salário e meio, o que era uma fortuna para mim. Quase o que meu pai ganhava depois de tantos anos de trabalho. Fui até a loja de tecidos contar a novidade e como sempre, antes de entrar, parei por um tempo e fiquei olhando para ele, com sua calça de tergal e uma camisa de algodão azul escura com a logomarca da loja. Chorei por alguns minutos, mas estava feliz, consegui encarar a cena e fazer parte dela. Meu pai me abraçou, já era final de expediente e saímos juntos. Comemoramos a novidade comprando, além do pão de cada dia, umas fatias de presunto, queijo, cerveja, Coca-Cola e uma barra de chocolate. Teríamos mais dinheiro dali para a frente.

Esqueci de contar à minha mãe e só no dia da minha primeira folga fui visitá-la. Nossos encontros eram sempre cheios de lembranças, mas prefiro não falar muito sobre eles.
Me adaptei rápido ao trabalho. Aprendi todos os truques para forrar camas, simplesmente me imaginava fazendo barquinhos e aviões de papel. Arranjei uma maneira de transformar o hábito em algo interessante: em cada quarto que entrava para limpar, observava todos os detalhes – as roupas, os objetos, os costumes, os cheiros....tentava descobrir como seriam aquelas pessoas. Algumas passavam muito tempo em um mesmo quarto e o transformavam em sua casa, outras, só uma noite. Esse meu método investigativo passou a se tornar uma obsessão. Em alguns casos, os mais atraentes, passava tanto tempo examinando os detalhes, que chegava a descobrir até mesmo o tipo físico da pessoa. Se era baixa ou alta; homem ou mulher - através da roupa. Se tinha cabelos lisos, encaracolados ou com caspa – através do shampoo; pele seca, oleosa, normal ou mista – através dos sabonetes e cremes. Se tinha barba, depilava ou raspava, e assim eu ia encontrando as minhas personagens e facilitando os meus dias completos de imaginação.
Algumas, sem adivinhar, me presenteavam deixando livros que estavam lendo no criado-mudo. Parecia que tinham trazido para mim e eu sempre lia um pouquinho de cada vez.
Até mesmo quando iam embora e eu não tinha terminado, ficava feliz por ter tido a oportunidade de conhecer mais um amor.... mesmo sem saber qual seria o final.

2006

ILUSTRAÇÃO PATI 1

Minha amiga querida Pati. Sou apaixonada por suas ilustrações!!

O buriti é uma palmeira muito alta, nativa de Trinidad e Tobago e do Norte da América do Sul, Venezuela e Brasil. É também conhecida como coqueiro-buriti. Para o seu desenvolvimento é essencial um solo ácido e grande quantidade de água. Seu fruto é uma fonte de alimento privilegiada. Rico em vitamina A, B e C, ainda fornece cálcio, ferro e proteínas. Consumido tradicionalmente ao natural, o fruto do buriti também pode ser transformado em doces, sucos, picolés, licores, sobremesas de paladar peculiares e na alimentação de animais. Fornece palmito saboroso, fécula e madeira. O óleo extraído da fruta tem valor medicinal para os povos tradicionais do Cerrado que o utilizam como vermífugo, cicatrizante e energético natural, também é utilizado para amaciar e envernizar couro, dá cor, aroma e qualidade a diversos produtos de beleza, como cremes, xampus, filtro solar e sabonetes. As folhas geram fibras usadas no artesanato. Os talos das folhas servem para a fabricação de móveis. Além de serem leves, as mobílias feitas com o buriti são resistentes e muito bonitas. As folhas jovens também produzem uma fibra muito fina, a “seda” do buriti, usada pelos artesãos na fabricação de peças feitas com o capim-dourado.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

FINALMENTE SE AJOELHOU

Foram dois minutos intermináveis. Ele caminhava de um lado para o outro do quarto.
“Terminou”, pensou Clarice, sentada na cama e acompanhando cada passo que ele dava. Eram passos cadenciados. Pareciam marcados para uma coreografia. Os sapatos dele faziam barulhos graves no chão.
Ele a olhava de cima, sentindo uma mistura de todos os sentimentos, menos culpa. A culpa era dela. Ela que tinha traído. Ela que tinha conhecido outro homem. Ele sabia de tudo.
Clarice continuava olhando para aqueles passos nervosos. Pensava em quanto havia tentado evitar tudo aquilo. Mas o acúmulo de mágoas fez com que o corpo dela não se movesse mais para ele. A pele já não se arrepiava, a mão não acariciava, a boca não abria, os olhos não se fechavam....até que apareceu o outro homem.
Uma chuva pesada começou a cair e o barulho dos pingos grossos se confundia com os dos sapatos.
Clarice se deitou na cama olhando para o teto e, por um momento, pensou ter apoiado a cabeça no peito do outro homem. Fechou os olhos e apenas escutou a chuva, os barulhos graves no chão haviam sumido. Ela entrou em um momento só seu. Tocou com as pontas dos dedos os lábios do outro homem, que, imediatamente, encostou o seu corpo no dela. Cada pedacinho da pele de Clarice tremia e ela entrou em sintonia com a vida novamente.Escutou o barulho grave no chão. Ele voltou, parou em sua frente e se ajoelhou, colocando os cotovelos nas pernas dela, que já estava sentada. Deu um beijo em cada olho de Clarice, agarrando o seu rosto com as duas mãos. E, com uma voz suave, sentindo finalmente a culpa dentro dele, pediu perdão.

Cordoba-Ar, 2005

EM ALGUM DIA

Descoberto em 2008, no aeroporto de Curitiba, em algum dia, enquanto esperava Ricardinho chegar....................: Mario Benedetti

"Domingo, 17 de março

Se alguma vez me suicidar, será em um domingo. É o dia mais desalentador, o mais insosso. Gostaria de ficar na cama até tarde, ao menos até a as nove ou dez, mas me acordo sozinho às seis e meia e já não consigo pregar os olhos. Às vezes penso no que farei quando minha vida toda for um domingo. Quem sabe, talvez me acostume a despertar às dez. Fui almoçar no centro, porque os meninos foram passar o fim de semana fora, cada um para o seu lado. Comi sozinho. Não me senti sequer capaz de entabular com o garçom o recorrente e tradicional intercâmbio de opiniões sobre o calor e os turistas. Duas mesas adiante, havia outro solitário. Tinha o cenho franzido, partia os pãezinhos com golpes duros. Duas ou três vezes o olhei, e em uma oportunidade nossos olhares se cruzaram. Creio ter visto ódio ali. O que haveria para ele em meus olhos? Deve ser uma regra geral que nós, solitários, não simpatizemos uns com os outros. Ou será que simplesmente somos antipáticos?

Voltei para casa, tirei uma sesta e me levantei pesado, de mau humor. Tomei alguns mates e me cansou o amargor da bebida. Então me vesti e fui outra vez para o Centro. Desta vez me meti em um café; consegui uma mesa junto à janela. Em um lapso de uma hora e quinze minutos, passaram exatamente trinta e cinco mulheres interessantes. Para me entreter, fiz uma estatística sobre o que me agradava mais em cada uma delas. Registrei os dados em um guardanapo de papel. Eis o resultado. De duas, agradou-me mais o rosto; de quatro, o cabelo; de seis, o busto; de oito, as pernas; de quinze, o traseiro. Ampla vitória dos traseiros."

Mario Benedetti, A Trégua, 1960 - Uruguai

sábado, 27 de dezembro de 2008

BABY


Babynho...... um dom.................................................te amo!
Noite de Natal 2008

GOTINHA

Acabei de assistir Vick Cristina Barcelona. Sensacional!! Woody Allen continua genial!





Eram tantas lágrimas que desciam por aquele rosto todas as noites, que os olhos dela sempre amanheciam roxos e inchados. Uma lágrima parou na ponta do nariz e começou um processo de cristalização. Agoniada, tentava arrancar aquela gotinha cristalizada com a ponta da unha até sangrar, mas na noite seguinte, outra lágrima parava naquele mesmo lugar e cristalizava outra vez. Ela desistiu de tentar arrancar e todas as noites alguma gotinha parava na mesma pontinha do nariz e juntava com a outra e ia crescendo. A gotinha cristalizada incomodava mais que as milhares de lágrimas que caíam todas as noites de seus olhos, pois todas as outras passavam e essa resolveu fincar raiz.

2007

JUSTAMENTE

Um blog. Demorei pra aceitar ter um. Na realidade, nem sei se vou conseguir continuar tendo, mas não custa tentar.........................................................vou tentar, né Andréa? Totalmente influenciada por você. rs
Então tá.......vamos lá!