sexta-feira, 8 de maio de 2009
Faltava uma semana para ela ir embora de volta para seu país.
Acordou tarde, como sempre. Tomou dois copos de suco de pêra – grosso, pura fruta. Comeu um pacote de biscoito com queijo cremoso e deitou no sofá para assistir televisão.
O telefone tocou do outro lado do balcão da cozinha. Ela estava gripada e menstruada – mal-estar. Levantou de uma só vez e começou a correr em direção ao telefone. Sentiu um enjôo de sangue. Todo o sangue do corpo parou no alto do estômago. Pegou o fone e escutou uma voz em castelhano. Era Sr. Pascoal, o taxista. Ele foi ficando longe. Ela conseguiu dizer umas duas palavras e mais nada, só a escuridão.
Quando viu a claridade de novo, estava no chão entre o balcão e a parede, o fone ficou pendurado pelo fio de mola. Não era um claro normal que ela via, era turvo, cor de branco manchado de preto. Levantou correndo outra vez, olhou no espelho do quarto, viu um vulto de lábios roxos. Medo da morte. Medo daquele nada. Alguns segundos provavelmente do outro lado e não viu coisa alguma, nem gente nenhuma. Era o nada absoluto. Deitou na cama, imóvel. Ligou para o marido que estava trabalhando. Caiu em prantos, gritando: você está me escutando? Com certeza é a minha voz? Acho que morri!
Ela ficou olhando para o teto, paralisada até ele chegar com o serviço médico do hotel. O teto branco. Enquanto via branco estava tudo bem.
Era segunda-feira, dia da última aula de escritura. Breve, estaria em sua realidade longe dali. Sabia o que estava esperando por ela no futuro.
O desmaio ia impossibilitar a sua mudança. Era o pavor de mudanças desde a infância. Foram tantas. Mas, querendo ou não, se adaptava.
O desmaio impossibilitou a mudança. Era muito perigoso mudar naquele momento.
Ela passou aqueles noventa dias em um mundo de fantasia na realidade. - A sensação que fica durante o dia quando se acorda de um sonho bom. Ela, nessa época, mesmo quando sonhava mal, acordava com a sensação boa, que só a abandonou quando, juntas, voltaram para casa.
2006
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