Foi assim..........entramos no carro e lá estava, no céu de novo, aquele sorriso me dizendo - Felicidade!
sábado, 29 de janeiro de 2011
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
Ontem na madrugada chuvosa, em um canto do viaduto, um homem sentado, enrolado em um lençol velho, com a cabeça baixa, apoiada no braço. Que dor. Que solidão. Que desamparo. Quem vai olhar por ele? Eu passei de carro e fiquei triste. Muito triste. Mas, não fiz nada.
Nas sensações, estamos sempre sós.
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sábado, 15 de janeiro de 2011
SEM CABEÇA
Acabei de perder o caminho. Saí da rota. Olhei por um minuto para o lado, e, quando voltei, estava sem ele.
Continuei caminhando assim mesmo. Estava escuro. Pisei em algo. Algo macio e duro ao mesmo tempo. Tirei os sapatos para sentir melhor. Encostei a sola do pé.......era uma cabeça. Sem dúvida era uma cabeça - A dele!
Tive vontade de chutar. Bater com o calcanhar. Aproveitar que estava frente a frente com a auto-suficiência em forma de cabeça e me vingar.
Lembrei do corpo que agora, longe daquela fria-cabeça-pensante, deveria estar acessível, disponível. Um corpo que sente, age e não pensa. Um corpo com uma cabeça perdida. Uma cabeça que não sustentava nenhum sentimento. Nem deixava que alguma parte do seu corpo sustentasse. Eu detestava essa cabeça!!
Saí à procura do corpo dele e encontrei, não muito longe.
Finalmente ficamos a sós, eu e Ele - o corpo sem cabeça.
Com um gesto de corpo que sente, age e pensa, arranquei a minha cabeça e dei para ele. E meu corpo, por ter ficado sem cabeça, passou a odiar o corpo dele.
2005/ Cordoba-Ar
Continuei caminhando assim mesmo. Estava escuro. Pisei em algo. Algo macio e duro ao mesmo tempo. Tirei os sapatos para sentir melhor. Encostei a sola do pé.......era uma cabeça. Sem dúvida era uma cabeça - A dele!
Tive vontade de chutar. Bater com o calcanhar. Aproveitar que estava frente a frente com a auto-suficiência em forma de cabeça e me vingar.
Lembrei do corpo que agora, longe daquela fria-cabeça-pensante, deveria estar acessível, disponível. Um corpo que sente, age e não pensa. Um corpo com uma cabeça perdida. Uma cabeça que não sustentava nenhum sentimento. Nem deixava que alguma parte do seu corpo sustentasse. Eu detestava essa cabeça!!
Saí à procura do corpo dele e encontrei, não muito longe.
Finalmente ficamos a sós, eu e Ele - o corpo sem cabeça.
Com um gesto de corpo que sente, age e pensa, arranquei a minha cabeça e dei para ele. E meu corpo, por ter ficado sem cabeça, passou a odiar o corpo dele.
2005/ Cordoba-Ar
domingo, 9 de janeiro de 2011
IT'S ONLY ROCK'N'ROLL
Um amigo de minha mãe soube que eu gostava de rock, e, aproveitando que a pessoa que mais andava comigo era um sósia de Johnny Rotten, resolveu me presentear com dois vinis importados do Sex Pistols e mais um do PIL. Naquela época, nenhum dos meus amigos tinha nem sequer gravação daqueles discos. Era um sonho. Resolvi fazer uma festa de boas-vindas aos meus novos companheiros.
A casa ficou cheia, todos os meus amigos queriam ver de perto as raridades.
Quando a festa estava acabando e meus disquinhos finalmente foram descansar, percebi que dois deles não estavam em lugar nenhum. Haviam sido roubados.
Muitas pessoas não estavam mais lá. As que restaram - as mais íntimas - me consolaram dizendo que alguém deveria tê-los pegado emprestado e que os devolveria com certeza.
De manhã, telefonei para cada uma delas. Com voz de choro informei o sumiço e fiz uma campanha de não-sobrevivência sem meus discos de volta.
Duas semanas depois, recebi o telefonema de um amigo e a informação de que uma pessoa anônima tinha resolvido devolver os discos porque ficou com muita pena de mim - não pensavam que eu iria ficar tão triste. Agora, eu era como eles: puro rock´n´roll.
E o anônimo? Indubitavelmente.......Johnny.
A casa ficou cheia, todos os meus amigos queriam ver de perto as raridades.
Quando a festa estava acabando e meus disquinhos finalmente foram descansar, percebi que dois deles não estavam em lugar nenhum. Haviam sido roubados.
Muitas pessoas não estavam mais lá. As que restaram - as mais íntimas - me consolaram dizendo que alguém deveria tê-los pegado emprestado e que os devolveria com certeza.
De manhã, telefonei para cada uma delas. Com voz de choro informei o sumiço e fiz uma campanha de não-sobrevivência sem meus discos de volta.
Duas semanas depois, recebi o telefonema de um amigo e a informação de que uma pessoa anônima tinha resolvido devolver os discos porque ficou com muita pena de mim - não pensavam que eu iria ficar tão triste. Agora, eu era como eles: puro rock´n´roll.
E o anônimo? Indubitavelmente.......Johnny.
sábado, 8 de janeiro de 2011
E a folha sobe e a folha desce. Tranquilidade e equilíbrio, só com a falta do vento.
E essa tristeza, e a recordação dos olhos de meu pai naquele momento, sem saber o que acontecia. Sem saber que não iria mais ver. E o tempo que passa infeliz, quando as folhas perdem o movimento.
E o amor sobe e o amor desce. Muito vento não ajuda o equilibrio. Mas, por agora é só o que temos...... movimentos oscilantes.
E essa tristeza, e a recordação dos olhos de meu pai naquele momento, sem saber o que acontecia. Sem saber que não iria mais ver. E o tempo que passa infeliz, quando as folhas perdem o movimento.
E o amor sobe e o amor desce. Muito vento não ajuda o equilibrio. Mas, por agora é só o que temos...... movimentos oscilantes.
domingo, 2 de janeiro de 2011
DOCE DE COGUMELO
½ quilo de cogumelo trazido da ilha, 2 latas de leite condensado e, finalmente, minha mãe ia fazer o tão prometido doce de cogumelo. Segundo ela, além de ser uma delícia, a viagem era das melhores.
Era final da tarde de um sábado....todos estavam reunidos na cozinha do apartamento. Parecia uma comemoração, minha mãe e meus amigos. Eu observava e adorava.
Estava com quatorze anos e me sentia o máximo – minha mãe fumava maconha, conversava sobre cinema, teatro, literatura, fazia faculdade de antropologia, era dona de um restaurante natural, namorava uma mulher e sabia fazer doce de cogumelo. Meus amigos adoravam a minha casa.
Eu tinha selecionado alguns discos para esse dia. Na época, escutávamos tudo o que Marcelo Nova mostrava no seu programa de rádio.
O doce ficou pronto, com cheiro de brigadeiro branco. Depois de esfriar, a panela começou a passar de mão em mão e a colher de boca em boca, menos pela minha.
Após algumas músicas e muita conversa, meus amigos resolveram sair do apartamento. O prédio ficava em frente ao mar e eles desceram para a praia. Eu fiquei em casa, olhando da varanda até eles sumirem na noite.
Já era madrugada quando escutei uma gritaria lá embaixo. Eles tinham voltado. A viagem não tinha sido tão doce na cidade. Um deles tinha visto um casal se agarrando atrás de uma banca de revista e pulou pra cima do homem e o atacou com socos e pontapés. Ninguém sabe o que ele viu ali. Largaram o homem todo ensangüentado, a mulher em prantos e fugiram para minha casa.
Desci.
Ele – o da viagem violenta – me abraçou chorando e me deu um beijo suave na boca.
Em segundos, já estavam dentro do carro, virando a esquina.
Não tive tempo de fazer nada, mas descobri que o doce de cogumelo não estava com leite condensado suficiente. Fiquei com um gosto amargo na boca.
Era final da tarde de um sábado....todos estavam reunidos na cozinha do apartamento. Parecia uma comemoração, minha mãe e meus amigos. Eu observava e adorava.
Estava com quatorze anos e me sentia o máximo – minha mãe fumava maconha, conversava sobre cinema, teatro, literatura, fazia faculdade de antropologia, era dona de um restaurante natural, namorava uma mulher e sabia fazer doce de cogumelo. Meus amigos adoravam a minha casa.
Eu tinha selecionado alguns discos para esse dia. Na época, escutávamos tudo o que Marcelo Nova mostrava no seu programa de rádio.
O doce ficou pronto, com cheiro de brigadeiro branco. Depois de esfriar, a panela começou a passar de mão em mão e a colher de boca em boca, menos pela minha.
Após algumas músicas e muita conversa, meus amigos resolveram sair do apartamento. O prédio ficava em frente ao mar e eles desceram para a praia. Eu fiquei em casa, olhando da varanda até eles sumirem na noite.
Já era madrugada quando escutei uma gritaria lá embaixo. Eles tinham voltado. A viagem não tinha sido tão doce na cidade. Um deles tinha visto um casal se agarrando atrás de uma banca de revista e pulou pra cima do homem e o atacou com socos e pontapés. Ninguém sabe o que ele viu ali. Largaram o homem todo ensangüentado, a mulher em prantos e fugiram para minha casa.
Desci.
Ele – o da viagem violenta – me abraçou chorando e me deu um beijo suave na boca.
Em segundos, já estavam dentro do carro, virando a esquina.
Não tive tempo de fazer nada, mas descobri que o doce de cogumelo não estava com leite condensado suficiente. Fiquei com um gosto amargo na boca.
sábado, 1 de janeiro de 2011
ANO NOVO ANTIGO
Clarice ia passar o primeiro reveillon na casa nova. Estavam morando juntos.
Dessa vez, nada de pular sete ondinhas, de jogar rosas e alfazemas para Iemanjá....... Soltariam fogos, brindariam com champagne, fariam os pedidos e estariam junto da família. Faltavam cinco minutos para a meia noite.
Clarice estava feliz. Ele dizia que a amava a cada 5 minutos. Tinha acabado de dizer. Então estaria tudo certo, faltavam 5 para a meia noite.
Contagem regressiva. Todos juntos. Ele estava do outro lado. Com fogos na mão. Não ia dar tempo de chegar perto. Ela foi se aproximando mesmo assim. E os segundos também. Meia noite. E ele continuou preocupado com os fogos e ela, esqueceu de agradecer por tudo de bom e esqueceu,também,de desejar coisas boas para o próximo ano.
Mas a lua estava lá, sorrindo de novo aquele sorrisinho desenhado no céu. E não importava o ano, era apenas para Clarice adorar.
De 2005 para 2006
Dessa vez, nada de pular sete ondinhas, de jogar rosas e alfazemas para Iemanjá....... Soltariam fogos, brindariam com champagne, fariam os pedidos e estariam junto da família. Faltavam cinco minutos para a meia noite.
Clarice estava feliz. Ele dizia que a amava a cada 5 minutos. Tinha acabado de dizer. Então estaria tudo certo, faltavam 5 para a meia noite.
Contagem regressiva. Todos juntos. Ele estava do outro lado. Com fogos na mão. Não ia dar tempo de chegar perto. Ela foi se aproximando mesmo assim. E os segundos também. Meia noite. E ele continuou preocupado com os fogos e ela, esqueceu de agradecer por tudo de bom e esqueceu,também,de desejar coisas boas para o próximo ano.
Mas a lua estava lá, sorrindo de novo aquele sorrisinho desenhado no céu. E não importava o ano, era apenas para Clarice adorar.
De 2005 para 2006
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