domingo, 2 de janeiro de 2011

DOCE DE COGUMELO

½ quilo de cogumelo trazido da ilha, 2 latas de leite condensado e, finalmente, minha mãe ia fazer o tão prometido doce de cogumelo. Segundo ela, além de ser uma delícia, a viagem era das melhores.
Era final da tarde de um sábado....todos estavam reunidos na cozinha do apartamento. Parecia uma comemoração, minha mãe e meus amigos. Eu observava e adorava.
Estava com quatorze anos e me sentia o máximo – minha mãe fumava maconha, conversava sobre cinema, teatro, literatura, fazia faculdade de antropologia, era dona de um restaurante natural, namorava uma mulher e sabia fazer doce de cogumelo. Meus amigos adoravam a minha casa.
Eu tinha selecionado alguns discos para esse dia. Na época, escutávamos tudo o que Marcelo Nova mostrava no seu programa de rádio.
O doce ficou pronto, com cheiro de brigadeiro branco. Depois de esfriar, a panela começou a passar de mão em mão e a colher de boca em boca, menos pela minha.
Após algumas músicas e muita conversa, meus amigos resolveram sair do apartamento. O prédio ficava em frente ao mar e eles desceram para a praia. Eu fiquei em casa, olhando da varanda até eles sumirem na noite.
Já era madrugada quando escutei uma gritaria lá embaixo. Eles tinham voltado. A viagem não tinha sido tão doce na cidade. Um deles tinha visto um casal se agarrando atrás de uma banca de revista e pulou pra cima do homem e o atacou com socos e pontapés. Ninguém sabe o que ele viu ali. Largaram o homem todo ensangüentado, a mulher em prantos e fugiram para minha casa.
Desci.
Ele – o da viagem violenta – me abraçou chorando e me deu um beijo suave na boca.
Em segundos, já estavam dentro do carro, virando a esquina.
Não tive tempo de fazer nada, mas descobri que o doce de cogumelo não estava com leite condensado suficiente. Fiquei com um gosto amargo na boca.


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