“Que escada comprida. Não acaba nunca!”, pensou Romilda, enquanto levantava, uma de cada vez, as suas pernas pesadas, e subia mais um degrau. Acordou às três da manhã, ou melhor, duas, no horário de Deus; preparou o feijão do almoço dos meninos; tomou um banho gelado e foi pro ponto, pegar o ônibus lotado pra fazer o exame da barriga doída. Uma amiga da patroa conseguiu que ela fizesse em um lugar particular, a dor era muita. Era em um “Day Hospital”, coisa de rico. Mas era favor, ia demorar, talvez o dia todo esperando. “Isso não era problema nenhum. O feijão dos meninos já estava pronto.”. O prédio era alto, o exame ia ser no sétimo andar, mas ela não entrava naquele “troço” fechado por nada nesse mundo. Subiu de escada, morrendo de dor, o remédio não fazia mais efeito. Chegou, encharcada de suor gelado e passando muito mal, a pressão estava baixa, só tinha tomado um golinho de café ralo antes de sair de casa. Não se aguentou, caiu de vez no chão da recepção e não viu mais nada. Acordou deitada em um leito de observação, com vários fios presos ao corpo. Um homem alto a observava, devia ser o doutor. “D. Romilda, está se sentindo melhor? Eu sou o Dr. César. Tenho uma coisa importante para te dizer.”. Ela só respondeu com a cabeça, não tinha força pra falar. “A senhora, vai precisar ficar alguns dias aqui, vamos ter que operar de urgência. A senhora está tendo uma hemorragia interna, um sangramento forte”. Ela arregalou os olhos e com o restinho de força que aparece quando se entra em desespero, deu um grito: “Mas doutor e quem vai fazer o feijão dos meus meninos?????”
Ilustração - Pati Woll
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