Eu tinha chegado naquele lugar com meu rosto pálido e meu cabelo curto-sem jeito, de sempre, quando ela apareceu toda maquiada, com o cabelo pintado-liso-chapinha, unhas vermelhas. Gastou parte considerável do seu salário, estava se sentindo linda.
Eu a conhecia de todos os dias que nos encontrávamos naquela lanchonete. Sempre que podia, passava por lá pra tomar um suco de lima integral e era ela quem me atendia. Casualmente, conversávamos sobre filhos, dor de cabeça, comida. Naquele dia, brinquei por ela estar toda produzida e ela, toda graciosa, sorriu um sorriso aberto. Virou de lado para pegar um copo e vi que faltava um dente. Era um sorriso desdentado.
Aquele sorriso desdentado, daquela mulher, toda arrumada, dissolveu, dentro de mim, todas as formas duras.
Aquele dente faltando, me mostrava a sua vida, eu conseguia ver todas as fragilidades dela. Era um sorriso incompleto e a única coisa que eu queria era tapar o buraco do sorriso e encobrir os seus sofrimentos.
Mas, tapar o buraco poderia significar um corte eterno no contato daquela mulher com a sua alma. Não correria esse risco.
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