quinta-feira, 28 de julho de 2011


Nove da manhã, o homem, bem vestido, entrou no elevador, olhou para todas as pessoas calculadamente e se ajeitou em um cantinho. Era alto, sua cabeça ficava acima das outras. O elevador estava cheio e silencioso. Situação desagradável, mas ele não se incomodava nem um pouco, apenas observava e avaliava. Era um prédio comercial. O elevador parava em quase todos os 21 andares. Pessoas saiam, outras entravam, não tinha ascensorista. Elas começaram a estranhar aquele homem parado no mesmo lugar, e foram comentar com o segurança que também já tinha notado aquela situação curiosa.
Já eram duas da tarde e ele não sentia fome, nem sede, nem vontade de ir ao sanitário. Continuava lá como uma estátua viva. O segurança resolveu entrar no elevador pra conversar com ele, antes de tomar uma providência mais séria. Estava apreensivo, pois o homem poderia ser um suicida, um psicopata ou estar armado.
- Olá Cidadão, algum problema? Por que não sai do elevador?
Bem calmo ele responde:
- Estou me escondendo da chuva. Está chovendo muito. Não quero sair.
- Mas não pode, Cidadão. Você não pode passar o dia nesse elevador.
- Eu tenho medo de chuva, moço. Deixe eu  ficar aqui.
- Não dá não. Você está assustando as pessoas.
- Assustando por quê? Não estou fazendo nada.
- Exatamente por isso. Não é normal uma pessoa entrar no elevador e não sair.
O elevador continuava subindo e descendo, com pessoas entrando e saindo.
- Mas, moço, eu não quero sair.
- Mas, vai ter que sair, Cidadão.  Vamos logo. Vamos saindo.
E quando o elevador chegou ao térreo, o segurança começou a empurrar o homem para fora.
Envergonhado, sem reagir, saiu do elevador. Chorou quando viu a chuva e começou a correr em direção à rua. Continuou chorando compulsivamente enquanto corria para casa. Chegou encharcado. Tocou a campanhia e sua mãe abriu a porta. Ele se agarrou a ela com tanta força e tremendo chorou ainda mais. Caiu no chão e se lembrou que estava só. Não era da chuva que ele tinha medo. Na verdade, ele não queria era voltar para a sua casa vazia.
.

Um comentário: