segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CHATICE

Estava na fila do supermercado. Aquelas filas para poucos volumes - mais rápidas. Um homem atrás de mim segurava a cesta com uma mão e, com a outra, fazia movimentos agoniados, rápidos. Coceira incontrolável. Eu percebia o desespero dele e o deixava mais incomodado. Pressão física nele. Impressão psicológica em mim – pontos de coceira surgindo em meu corpo. Ele não conseguia parar. Pensei em bichinhos saltitantes, quase invisíveis. Imaginei os bichinhos pulando para mim em cada coçada dele. Um, dois, cem, milhares. Descendo pelas pernas dele, caminhando pelo chão do supermercado e subindo nas minhas. Só nas minhas. A cada avanço da fila, ele se aproximava mais. Eu passei pro lado do carrinho e, logo em seguida, já o puxava pela frente ao invés de empurrar. As coceiras persistiam - a dele, em um único lugar e a minha, em diversos. Pensei como ele faria quando chegasse ao caixa para colocar os produtos na esteira ou fazer o pagamento - uma dúzia de banana, uma coçada. Um iogurte, uma coçada. Uma garrafa de Coca-Cola, uma coçada. A carteira, ....
Bem, não esperei para ver. Passei as minhas compras, fiz o pagamento e nem olhei para trás. Deixei ele e os meus bichinhos também.


2007

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