sexta-feira, 17 de abril de 2009

Clarice chegou em casa morrendo de sono e irritação. Deu de cara com a escada de madeira, que dava para a cobertura do apartamento, completamente amarelada. Não só a escada, mas a parede estava toda manchada de amarelo. D. Maria não era cega, mas não viu desde o primeiro momento quando o primeiro pedaço de pano com cera encostou, na primeira parte da parede, por isso continuou encerando e sujando.
A vida de D. Maria não era fácil. Fazia um ano que seu marido tinha ido comprar cigarro. Dizem que fugiu com a moça que ela pagava um terço do seu salário para tomar conta do filho. Ela nunca tocava nesse assunto, mas muitas vezes se trancava no banheiro para chorar. Saía com o nariz e os olhos vermelhos. Dizia que era “uma gripe que não me larga!”. Usava saias que iam até o tornozelo e levava a Bíblia todos os dias para o trabalho. Tudo que fazia era “em nome de Jesus!”. Seus cabelos já estavam quase todos brancos e emocionava olhar de cima quando ela estava abaixada passando pano no chão.
Se queixava da vida difícil e, apesar de tanta crença, mentia, enganava, odiava, fazia coisas que todo homem comum faz, porque ela simplesmente acreditava que seria salva de todos os seus pecados indo todos os sábados para a igreja e, no fim do mês, pagando para Jesus a mensalidade de sua redenção.

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