sábado, 31 de janeiro de 2009
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
ENCANTAMENTO
Clarice devia ter uns sete anos quando viu de perto pela primeira vez aqueles dois pedacinhos de vidro presos por uns fios de ferro. Ficou encantada. Não tirava os olhos do rosto daquele jovem que entrou na sala enquanto ela arrumava, junto com sua mãe, a mesa para o jantar.
Era filho de uma prima distante e iria morar com eles por alguns anos até terminar a faculdade de letras.
O rapaz foi levado ao quarto que seria dele, que ficava no andar superior da casa, em frente ao de Clarice. Era a sua nova vida que acabava de começar.
Após o jantar, foram para a biblioteca, Clarice deitou no colo do pai. Sua mãe, como de costume, abriu um livro, que não era para crianças e começou a ler, em voz alta, um conto. O jovem se adaptou perfeitamente a esse costume de leitura noturna e logo nesta primeira noite, com muito prazer, colocou os óculos e leu um texto que havia selecionado de um dos livros.
Clarice parecia enfeitiçada por aqueles vidrinhos mágicos e seus olhos não mudavam de direção enquanto ele lia. Hipnotizada, olhava fixamente para aquelas duas íris cor de mel dilatadas atrás dos vidros.
Depois de ler a última palavra escrita na página, ele se calou, fechou o livro e tirou os óculos. Clarice, ainda em seu estado de torpor, os seguiu com os olhos enquanto eram colocados, pelo jovem, na mesinha de centro.
Todos foram dormir menos Clarice, que esperou ansiosa as luzes se apagarem para tocar naquele tesouro que havia sido esquecido por seu dono.
Com muito cuidado pegou aqueles vidrinhos que pareciam vivos e, exatamente como o jovem fazia, colocou em seu rosto.
A sala começou a mudar de cor, ficou mais clara. No forro da poltrona à sua frente, apareceram várias florezinhas que nunca estiveram ali. Os livros, ao invés de terem manchas brancas em suas capas, agora tinham títulos, palavras, letras. Coisas começaram a surgir do nada. Ela descobriu um outro mundo ainda nunca visto.
Agora sabia que por trás de toda explicação lógica que sua mãe havia lhe dado sobre a importância daqueles vidrinhos, existia algo especial. Algo como a paixão. E que apesar de ser apenas uma menininha de sete anos, nunca mais queria ver a vida de outra maneira.
Cordoba-Ar, 2005
Era filho de uma prima distante e iria morar com eles por alguns anos até terminar a faculdade de letras.
O rapaz foi levado ao quarto que seria dele, que ficava no andar superior da casa, em frente ao de Clarice. Era a sua nova vida que acabava de começar.
Após o jantar, foram para a biblioteca, Clarice deitou no colo do pai. Sua mãe, como de costume, abriu um livro, que não era para crianças e começou a ler, em voz alta, um conto. O jovem se adaptou perfeitamente a esse costume de leitura noturna e logo nesta primeira noite, com muito prazer, colocou os óculos e leu um texto que havia selecionado de um dos livros.
Clarice parecia enfeitiçada por aqueles vidrinhos mágicos e seus olhos não mudavam de direção enquanto ele lia. Hipnotizada, olhava fixamente para aquelas duas íris cor de mel dilatadas atrás dos vidros.
Depois de ler a última palavra escrita na página, ele se calou, fechou o livro e tirou os óculos. Clarice, ainda em seu estado de torpor, os seguiu com os olhos enquanto eram colocados, pelo jovem, na mesinha de centro.
Todos foram dormir menos Clarice, que esperou ansiosa as luzes se apagarem para tocar naquele tesouro que havia sido esquecido por seu dono.
Com muito cuidado pegou aqueles vidrinhos que pareciam vivos e, exatamente como o jovem fazia, colocou em seu rosto.
A sala começou a mudar de cor, ficou mais clara. No forro da poltrona à sua frente, apareceram várias florezinhas que nunca estiveram ali. Os livros, ao invés de terem manchas brancas em suas capas, agora tinham títulos, palavras, letras. Coisas começaram a surgir do nada. Ela descobriu um outro mundo ainda nunca visto.
Agora sabia que por trás de toda explicação lógica que sua mãe havia lhe dado sobre a importância daqueles vidrinhos, existia algo especial. Algo como a paixão. E que apesar de ser apenas uma menininha de sete anos, nunca mais queria ver a vida de outra maneira.
Cordoba-Ar, 2005
DOIS ACONTECIMENTOS EM UMA TARDE EM UM HOSPITAL PÚBLICO
I
- Moça, eu só posso comer coisa ruim. Todas as vez que eu como uma coisa das boa, na mesma da hora me dá logo uma dor na cabeça. Mas aí, moça, eu me apego com Deus e como mermo, tudinho. Isso quando me chega alguma coisa das boa pra cumê....... Cê acha mermo, moça, que eu posso perder uma bênção dessas? Eu como mermo. Fico com a minha cabeça cheia de dor, mas não vou deixar de encher minha barriga de coisa das boa, não.
A moça aí, eu sei, deve de ter a barriga cheia de coisa das boa e a cabeça cheia de vazia de dor.
II
- Fiquei três anos sem ir no médico, só fazia trabalhar. Cê sabe né, patrão é que nem marido - só gosta de empregado são. Quando descobri esse câncer, eu já estava fedendo igual a carniça. Ninguém ficava do meu lado, assim como você está aí agora. Mas Jesus teve poder e quando a dor vinha eu gritava: Jesus, tire essa doença de mim. Sai de mim, doença, que você não me pertence. Foi minha fé que me curou, porque eu sei que o tratamento mata mais que a doença e eu nem estou fedendo mais.
Tá vendo esse celular aqui, não sei mexer em nada. Só sei atender e desligar. Outro dia, peguei minha filha e disse que ela tinha que me ensinar tudinho.
Oh, coisa triste é você comprar uma coisa, ter e não saber possuir.......
2006
- Moça, eu só posso comer coisa ruim. Todas as vez que eu como uma coisa das boa, na mesma da hora me dá logo uma dor na cabeça. Mas aí, moça, eu me apego com Deus e como mermo, tudinho. Isso quando me chega alguma coisa das boa pra cumê....... Cê acha mermo, moça, que eu posso perder uma bênção dessas? Eu como mermo. Fico com a minha cabeça cheia de dor, mas não vou deixar de encher minha barriga de coisa das boa, não.
A moça aí, eu sei, deve de ter a barriga cheia de coisa das boa e a cabeça cheia de vazia de dor.
II
- Fiquei três anos sem ir no médico, só fazia trabalhar. Cê sabe né, patrão é que nem marido - só gosta de empregado são. Quando descobri esse câncer, eu já estava fedendo igual a carniça. Ninguém ficava do meu lado, assim como você está aí agora. Mas Jesus teve poder e quando a dor vinha eu gritava: Jesus, tire essa doença de mim. Sai de mim, doença, que você não me pertence. Foi minha fé que me curou, porque eu sei que o tratamento mata mais que a doença e eu nem estou fedendo mais.
Tá vendo esse celular aqui, não sei mexer em nada. Só sei atender e desligar. Outro dia, peguei minha filha e disse que ela tinha que me ensinar tudinho.
Oh, coisa triste é você comprar uma coisa, ter e não saber possuir.......
2006
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
40 anos
40 anos............................espero de Deus muita saúde para no mínimo mais 40 anos.....................
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
A VELHA
Clarice saía de casa aos domingos às seis da manhã. Andava até o ponto de ônibus e esperava quase uma hora. Depois de mais outra hora, chegava perto de seu destino. Neste dia ela não estava só, ele a havia seguido.
Quando desceram do ônibus, caminharam por alguns minutos. Não se olhavam. Chegaram e subiram as escadas calados. Não adiantava falar. Ele não a entendia mais.
Clarice tocou a campanhia e os dois escutaram dentro do apartamento, quando a velha se levantou da cadeira e cheia de dores no corpo se arrastou até a porta. Com um sorriso nos olhos recebeu Clarice. Elas se abraçaram, até que a velha viu o homem. “É ele!” pensou. “É por ele que Clarice está ficando tão feia”.
Clarice gostava de passar por lá todas as semanas. Entrava na solidão da velha para ouvir suas histórias. Conversavam sobre sentimentos.
Sentaram-se e a velha olhando para o homem perguntou a Clarice sobre a felicidade.
Desconforto. Ficou sem palavras. Como falar de algo apenas imaginado e nunca sentido. As coisas em sua vida aconteciam sem nenhum significado especial.
Ela achava que a felicidade era momento - espaços pequenos ou grandes de tempo que não eram contínuos.
Já que a felicidade não podia ser inteira, ela preferia ficar de longe, só olhando e nem por um momento pensar em se envolver com essa ilusão chamada felicidade.
Clarice não respondeu. Mudou de assunto.
A velha continuava olhando para o homem. Ele não se alterava, nem por fora, nem por dentro. Frio dormia, frio acordava, frio se comportava diante das pessoas.
A velha foi ficando triste. Se sentindo impotente, sem forças, apática.
Clarice neste dia tinha ido ao encontro dela, não para ouvir as suas histórias, mas para sugar a sua alma.
Quando desceram do ônibus, caminharam por alguns minutos. Não se olhavam. Chegaram e subiram as escadas calados. Não adiantava falar. Ele não a entendia mais.
Clarice tocou a campanhia e os dois escutaram dentro do apartamento, quando a velha se levantou da cadeira e cheia de dores no corpo se arrastou até a porta. Com um sorriso nos olhos recebeu Clarice. Elas se abraçaram, até que a velha viu o homem. “É ele!” pensou. “É por ele que Clarice está ficando tão feia”.
Clarice gostava de passar por lá todas as semanas. Entrava na solidão da velha para ouvir suas histórias. Conversavam sobre sentimentos.
Sentaram-se e a velha olhando para o homem perguntou a Clarice sobre a felicidade.
Desconforto. Ficou sem palavras. Como falar de algo apenas imaginado e nunca sentido. As coisas em sua vida aconteciam sem nenhum significado especial.
Ela achava que a felicidade era momento - espaços pequenos ou grandes de tempo que não eram contínuos.
Já que a felicidade não podia ser inteira, ela preferia ficar de longe, só olhando e nem por um momento pensar em se envolver com essa ilusão chamada felicidade.
Clarice não respondeu. Mudou de assunto.
A velha continuava olhando para o homem. Ele não se alterava, nem por fora, nem por dentro. Frio dormia, frio acordava, frio se comportava diante das pessoas.
A velha foi ficando triste. Se sentindo impotente, sem forças, apática.
Clarice neste dia tinha ido ao encontro dela, não para ouvir as suas histórias, mas para sugar a sua alma.
2005
MANIA DE CLARICE
A porta do armário sempre ficava um pouco aberta e quando ela ia tentar fechar, fazia um barulho irritante. Mesmo assim, ela preferia o barulho a ter que deixar aquela gretinha mostrando as roupas. Na verdade, tinha uma cisma. Essas coisas que você absorve desde a infância de algum paranóico da família. Quase sempre se vê o outro fazendo, todos criticam, mas um sempre acaba agindo igual sem perceber.
Clarice era assim, cheia de manias. Algumas herdadas outras inventadas. E eram manias periódicas. Ela passava um tempo piscando os olhos, outro com uma tossinha seca e em algumas fases piores pegava com a ponta do dedo anular em determinados pontos escolhidos por onde passava. A depender de como estivesse sua vida, podia recorrer a todas de uma só vez. Ela se achava ridícula, mas não podia parar. Todas essas manias estavam condicionadas ao bem e ao mal. Se ela não fizesse determinada coisa, algo ruim poderia acontecer, como se fosse um castigo, uma autopunição. Se fizesse tudo como deveria e mesmo assim desse errado, ela era culpada do mesmo jeito. Sempre se achava culpada de tudo que acontecia.
Estava infeliz. Perdendo o controle do seu corpo. Inevitável. O inevitável que era a não-modificação, o não-poder, a não-consciência, a não-estrutura.
Estava longe das boas emoções, das boas surpresas.
Seu corpo não tinha mais onde conservar tanta mágoa.
A felicidade se tornou clandestina, escondida na gretinha do armário, entre as roupas.
2005
Clarice era assim, cheia de manias. Algumas herdadas outras inventadas. E eram manias periódicas. Ela passava um tempo piscando os olhos, outro com uma tossinha seca e em algumas fases piores pegava com a ponta do dedo anular em determinados pontos escolhidos por onde passava. A depender de como estivesse sua vida, podia recorrer a todas de uma só vez. Ela se achava ridícula, mas não podia parar. Todas essas manias estavam condicionadas ao bem e ao mal. Se ela não fizesse determinada coisa, algo ruim poderia acontecer, como se fosse um castigo, uma autopunição. Se fizesse tudo como deveria e mesmo assim desse errado, ela era culpada do mesmo jeito. Sempre se achava culpada de tudo que acontecia.
Estava infeliz. Perdendo o controle do seu corpo. Inevitável. O inevitável que era a não-modificação, o não-poder, a não-consciência, a não-estrutura.
Estava longe das boas emoções, das boas surpresas.
Seu corpo não tinha mais onde conservar tanta mágoa.
A felicidade se tornou clandestina, escondida na gretinha do armário, entre as roupas.
2005
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
GRACIAS DIOS!
Finalmente meu pai foi transferido para o Aliança. De UTI para UTI, mas quanta diferença! Espero que faça muita diferença na saúde dele para melhor também.
Hoje de tarde, antes da transferência, até mosca Xande viu em cima do lençol dele. Dá pra acreditar???? Mosca na UTI de um hospital particular......socorro! -Cardiopulmonar, fechamos nossa relação com chave de ouro. Até nunca mais, é o que desejo do fundo do meu coração (quanto drama! rs, mas não é não........só depois contando todos os detalhes com muita calma).
Só chegamos no Aliança depois das oito da noite e quando entrei pra ver como ele estava, vi outra pessoa......super calmo, numa cama imensa, com uma cara de alívio impressionante.....até televisão ele quis assistir. Foi feita a sua vontade.
Nenhum hospital daqui é bom, mas tem uns que são bem piores. Graças a Deus agora posso ver meu pai sendo melhor tratado.......hoje vou conseguir dormir um pouco melhor e tenho certeza que ele também.
Hoje de tarde, antes da transferência, até mosca Xande viu em cima do lençol dele. Dá pra acreditar???? Mosca na UTI de um hospital particular......socorro! -Cardiopulmonar, fechamos nossa relação com chave de ouro. Até nunca mais, é o que desejo do fundo do meu coração (quanto drama! rs, mas não é não........só depois contando todos os detalhes com muita calma).
Só chegamos no Aliança depois das oito da noite e quando entrei pra ver como ele estava, vi outra pessoa......super calmo, numa cama imensa, com uma cara de alívio impressionante.....até televisão ele quis assistir. Foi feita a sua vontade.
Nenhum hospital daqui é bom, mas tem uns que são bem piores. Graças a Deus agora posso ver meu pai sendo melhor tratado.......hoje vou conseguir dormir um pouco melhor e tenho certeza que ele também.
domingo, 18 de janeiro de 2009
O SER CATIVO
Esta é a história de Hera: uma mulher pálida, largada dentro de um quarto fosco, acompanhada por caixas de papelão, daquelas de supermercado, cheias de frascos de esmaltes, perfumes vazios, restos de batons de todas as cores, potes de cremes importados, alguns ainda lacrados com a validade vencida. Fora das caixas, há pilhas de jornais e revistas velhas, que são as únicas relações dela com o mundo. Em uma parede, tem uma estante entupida de livros. O quarto não tem luz das janelas, é coberto no chão, nas paredes e no teto de recortes desses jornais e dessas revistas. Nenhum espaço em branco. Só palavras escritas. Não tem televisão. Ao lado da cama, está um velho aparelho de som três em um, alguns vinis e algumas fitas K7, de onde ela escuta apenas alguns pedaços de músicas, nunca deixa tocar até o fim. No fundo do quarto, uma porta leva a um banheiro. Os poucos utensílios que ela utiliza e sua comida são entregues através de uma janelinha que dá para o corredor da casa. Ela não quer ver as pessoas. Isso já está durando nove anos e seis meses. Algumas vezes, alguns amigos ou familiares tentam se comunicar com ela através da janelinha, mas ela não responde. Apenas ouve calada. Aprendeu a ficar calada. Quando precisa pedir remédio para febre, dor de cabeça ou enjôo, escreve um bilhete e coloca na janela. Quase nunca fica doente, mas tem dores de cabeça terríveis nos períodos menstruais e, algumas vezes, quando se lembra de determinadas pessoas, não pára de vomitar. Se alimenta de frutas, arroz integral com gergelim e, todo final de tarde, de duas canecas de cevada com leite em pó desnatado e açúcar mascavo. Esse é o horário do dia que mais gosta, quando o sino da igreja, que fica na mesma rua, toca seis vezes e ela fica deitada na cama imóvel, ouvindo aquelas badaladas fortes e suaves pelos seus movimentos. Não adianta alguém tentar levar qualquer comida diferente, ela não aceita, devolve intacta. De novidade, só recebe livros. Seu organismo está carente de quase todos os nutrientes necessários para sobreviver, mas ela sobrevive. E bem. Algumas vezes, também pede produtos de limpeza, quiboa, desinfetante, buchas, pano de chão e vassoura para arrancar tudo que está colado no chão. Esfrega até sair toda a gosma. Depois, passa uma semana andando no chão gelado e deitando nua pra sentir uma sensação diferente, mas logo cansa daquilo e começa a recortar e cobrir de novo todo o chão daqueles recortes com caras de pessoas para que ela possa pisar. Cospe em todos aqueles rostos conhecidos e desconhecidos até transformá-los em manchas pretas. Eram pessoas e ela não queria ver mais nenhuma pelo resto da vida. De vez em quando, tinha esses rompantes de arrumação e passava dias inteiros organizando suas roupas, enfileirando cada peça por cor e tipo dentro do armário. Também limpava as caixas de papelão, mas nunca jogava nada fora. Cheia de manias, tem pavor de mudanças.
Nos primeiros anos, chorava quase todos os dias, depois foi secando por dentro, já não tinha mais lágrimas, a pele estava toda enrugada, os cabelos secos, as unhas curtas, quase na carne, de tanto roer. Era filha única. Quarenta e poucos anos. Não tinha filhos.
A casa fora do quarto funcionava normalmente. Quando começaram as crises de isolamento, sua mãe, uma mulher de 65 anos, professora de literatura brasileira, se mudou para lá. Na primeira vez que aconteceu, D. Rita, a faxineira, achou que ela tinha saído pra trabalhar e que havia deixado o quarto trancado. Não pôde limpar, nem imaginou que Hera estava enfurnada ali dentro. Voltou dois dias depois e o quarto estava trancado de novo. Resolveu ligar para o trabalho dela e disseram que Hera não aparecia há quase uma semana. Ouviu um barulho, chamou a patroa e nenhuma resposta. Ligou para a mãe dela e resolveram arrombar a porta. Encontraram Hera quase morta, sem comer e sem beber. Foi a partir desse momento que ela parou de falar. Parou de trabalhar, se escondeu definitivamente no quarto e iniciou o seu processo de reclusão. Passava os dias lendo e escrevendo em cadernos. Aparentemente, nada tinha acontecido antes disso que justificasse aquele isolamento. Apenas uma coisa chamava a atenção de algumas pessoas que conviviam com ela – as mais íntimas e, principalmente, a faxineira: a sua mania de juntar bagulhos. O apartamento era lindo, espaçoso, todo bem decorado com móveis modernos, mas o seu quarto ia com o passar do tempo virando um depósito de quinquilharias, de todos os tipos. Ela não deixava que a faxineira jogasse nada fora e guardava tudo no seu quarto, como se cada frasco vazio fosse algo valiosíssimo, que deveria ser guardado a sete- chaves.
Quando Hera se trancou de vez, só deixava que a mãe entrasse no quarto para levar comida, mas toda vez que a via, corria para o banheiro para vomitar.
Ela começou a adorar a sensação de colocar para fora toda aquela humanidade. Algumas vezes, prendia o vômito o máximo que agüentava para tornar a sensação da saída mais intensa.
Foi para evitar os vômitos diários que resolveram fazer a janelinha por onde passariam a comida, os jornais, as revistas, as poucas coisas que ela utilizava e a mãe deixou de entrar no quarto, que passou a ficar trancado por dentro.
Os anos iam passando e Hera continuava seguindo sua rotina, sem novidades, lendo, escrevendo, recortando, colando, misturando em sua cabeça muitas vezes a realidade do seu passado, com as histórias dos livros, revistas e jornais. A humanidade real, misturada com a humanidade fictícia. Mas, sem deixar de ser uma ligação de características compartilhadas pela natureza humana. Os humanos, aqueles mesmos que permanecem como amigos ao lado de suas vítimas, antes e após devorá-las. E que ela tinha asco até por ela própria ser um deles.
Um dia, Hera acordou, escovou os dentes, comeu a banana, que já estava na janelinha junto com o jornal e a revista semanal, pegou uma tesoura e sentou na cama pra começar os seus recortes. Antes de separar o que iria ser cortado, passava os olhos em todas as matérias e artigos e só fixava para ler algo que realmente chamasse a sua atenção e que não tivesse imagens de pessoas, só palavras. De repente, ateve os olhos em uma página da revista, segurou com a mão a boca do estomago e colocou a língua para fora como se fosse vomitar. Saiu um sopro de ar seco. Desviou o olhar. Ficou o gosto acre misturado com o doce da banana. Voltou os olhos para a imagem que naquele momento, dava para perceber, era o rosto de um homem bonito de trinta e poucos anos, com lágrimas nos olhos. Um rosto que tomava a página inteira. Ela fixou a vista na imagem daqueles olhos vermelhos e húmidos e enxergou a sensibilidade da alma daquele ser. Que coisa linda ver a imagem de um homem chorando. Que imagem rara e sensacional. Chorou junto com ele, beijou milhões de vezes aqueles olhos divinos e não sentiu nenhuma vontade de vomitar. Ficou tão cansada com a imensitude daquela sensação boa que pegou no sono abraçada ao homem.
Todos os dias, depois que acordava, não conseguia mais dormir, pois a quantidade de pensamentos não deixava. Mas, nesta manhã, o corpo estava tão leve e a cabeça tão vazia que ela praticamente desmaiou.
Levantou de susto quando ouviu o barulho do prato de comida sendo colocado na janelinha. Por um momento, ainda meio sonolenta, esqueceu onde estava, foi na direção da porta e sem perceber o que fazia, destrancou. Deu de cara com D. Rita. As duas ficaram pálidas olhando uma para a outra sem reação, até que Hera voltou correndo para o banheiro e vomitou desesperadamente. Caiu no chão e ficou sentada em estado de choque. D. Rita gritou para a mãe de Hera que estava almoçando sentada no sofá da sala em frente à televisão e as duas entraram no quarto antes que aquela inimaginável oportunidade deixasse de ser real. Não sabiam se se aproximavam dela; se falavam alguma coisa; se chamavam alguém....acabaram sentando também no chão do banheiro e chorando, as três ao mesmo tempo.
Hera estava de volta ao mundo das pessoas. Nas primeiras semanas a porta continuou destrancada e ela passou a receber a mãe e alguns amigos no seu quarto, entretanto ainda não tinha vontade de sair dele. Não falava muito, gostava de ficar deitada na cama olhando e ouvindo as pessoas conversarem. Observava os gestos, tentava sentir as emoções de cada um. Foram dez anos sem ver o mundo, sem ver tão de perto os seres humanos. Estava envelhecida, os cabelos quase todos brancos, muito destruída por fora também.
Decidiu se desfazer das caixas de papelão, dos jornais e das revistas. As paredes e o chão voltaram a ficar limpos. A luz entrou pela janela descoberta depois de tanto tempo. Se readaptou a tudo como se o início fosse ontem. Mas, em alguns momentos, se assustava com a quantidade de claridade, de informação, de gestos, vozes, sentimentos e queria novamente estar só, era uma sensação de nostalgia, como se existisse algo em sua vida que tivesse ficado incompleto.
Percebeu que não voltou a sentir amor, carinho, felicidade, tristeza......as pessoas não lhe causavam mais nenhuma emoção. Mas será que já causaram alguma vez?
Alguns meses depois, sentiu vontade de sair do quarto. Andou pelo apartamento que agora já não tinha mais nenhum sinal de sua existência, as suas coisas estavam lá, mas o cheiro era o de sua mãe. A televisão da sala estava ligada. Ela passou em direção à porta da rua, mas o som estava tão alto para D. Rita escutar da cozinha enquanto preparava o almoço, que ela olhou para o aparelho moderno de tela plana, diferente daquele de dez anos atrás e parou intrigada. Uma imagem lhe pareceu familiar, era um homem bonito de uns trinta e poucos anos caminhando pela rua. A câmera foi fechando no rosto do homem até tomar a tela inteira da TV. Hera, instantaneamente, lembrou daquela imagem. Era o mesmo homem, os mesmos olhos chorosos, as mesmas lágrimas, a mesma sensibilidade humana. No quarto, quando viu o homem na revista, tinha ficado tão fascinada com aquela imagem absurdamente rara, que não percebeu o óbvio: era um anúncio publicitário.
“O homem é ridículo. Creio ter descoberto a causa desse ridículo: é o equívoco, o erro prático, o engano colossal que pesa sobre a condição humana.” *
Hera desligou a TV e voltou para o seu quarto. Trancou a porta.
Nos primeiros anos, chorava quase todos os dias, depois foi secando por dentro, já não tinha mais lágrimas, a pele estava toda enrugada, os cabelos secos, as unhas curtas, quase na carne, de tanto roer. Era filha única. Quarenta e poucos anos. Não tinha filhos.
A casa fora do quarto funcionava normalmente. Quando começaram as crises de isolamento, sua mãe, uma mulher de 65 anos, professora de literatura brasileira, se mudou para lá. Na primeira vez que aconteceu, D. Rita, a faxineira, achou que ela tinha saído pra trabalhar e que havia deixado o quarto trancado. Não pôde limpar, nem imaginou que Hera estava enfurnada ali dentro. Voltou dois dias depois e o quarto estava trancado de novo. Resolveu ligar para o trabalho dela e disseram que Hera não aparecia há quase uma semana. Ouviu um barulho, chamou a patroa e nenhuma resposta. Ligou para a mãe dela e resolveram arrombar a porta. Encontraram Hera quase morta, sem comer e sem beber. Foi a partir desse momento que ela parou de falar. Parou de trabalhar, se escondeu definitivamente no quarto e iniciou o seu processo de reclusão. Passava os dias lendo e escrevendo em cadernos. Aparentemente, nada tinha acontecido antes disso que justificasse aquele isolamento. Apenas uma coisa chamava a atenção de algumas pessoas que conviviam com ela – as mais íntimas e, principalmente, a faxineira: a sua mania de juntar bagulhos. O apartamento era lindo, espaçoso, todo bem decorado com móveis modernos, mas o seu quarto ia com o passar do tempo virando um depósito de quinquilharias, de todos os tipos. Ela não deixava que a faxineira jogasse nada fora e guardava tudo no seu quarto, como se cada frasco vazio fosse algo valiosíssimo, que deveria ser guardado a sete- chaves.
Quando Hera se trancou de vez, só deixava que a mãe entrasse no quarto para levar comida, mas toda vez que a via, corria para o banheiro para vomitar.
Ela começou a adorar a sensação de colocar para fora toda aquela humanidade. Algumas vezes, prendia o vômito o máximo que agüentava para tornar a sensação da saída mais intensa.
Foi para evitar os vômitos diários que resolveram fazer a janelinha por onde passariam a comida, os jornais, as revistas, as poucas coisas que ela utilizava e a mãe deixou de entrar no quarto, que passou a ficar trancado por dentro.
Os anos iam passando e Hera continuava seguindo sua rotina, sem novidades, lendo, escrevendo, recortando, colando, misturando em sua cabeça muitas vezes a realidade do seu passado, com as histórias dos livros, revistas e jornais. A humanidade real, misturada com a humanidade fictícia. Mas, sem deixar de ser uma ligação de características compartilhadas pela natureza humana. Os humanos, aqueles mesmos que permanecem como amigos ao lado de suas vítimas, antes e após devorá-las. E que ela tinha asco até por ela própria ser um deles.
Um dia, Hera acordou, escovou os dentes, comeu a banana, que já estava na janelinha junto com o jornal e a revista semanal, pegou uma tesoura e sentou na cama pra começar os seus recortes. Antes de separar o que iria ser cortado, passava os olhos em todas as matérias e artigos e só fixava para ler algo que realmente chamasse a sua atenção e que não tivesse imagens de pessoas, só palavras. De repente, ateve os olhos em uma página da revista, segurou com a mão a boca do estomago e colocou a língua para fora como se fosse vomitar. Saiu um sopro de ar seco. Desviou o olhar. Ficou o gosto acre misturado com o doce da banana. Voltou os olhos para a imagem que naquele momento, dava para perceber, era o rosto de um homem bonito de trinta e poucos anos, com lágrimas nos olhos. Um rosto que tomava a página inteira. Ela fixou a vista na imagem daqueles olhos vermelhos e húmidos e enxergou a sensibilidade da alma daquele ser. Que coisa linda ver a imagem de um homem chorando. Que imagem rara e sensacional. Chorou junto com ele, beijou milhões de vezes aqueles olhos divinos e não sentiu nenhuma vontade de vomitar. Ficou tão cansada com a imensitude daquela sensação boa que pegou no sono abraçada ao homem.
Todos os dias, depois que acordava, não conseguia mais dormir, pois a quantidade de pensamentos não deixava. Mas, nesta manhã, o corpo estava tão leve e a cabeça tão vazia que ela praticamente desmaiou.
Levantou de susto quando ouviu o barulho do prato de comida sendo colocado na janelinha. Por um momento, ainda meio sonolenta, esqueceu onde estava, foi na direção da porta e sem perceber o que fazia, destrancou. Deu de cara com D. Rita. As duas ficaram pálidas olhando uma para a outra sem reação, até que Hera voltou correndo para o banheiro e vomitou desesperadamente. Caiu no chão e ficou sentada em estado de choque. D. Rita gritou para a mãe de Hera que estava almoçando sentada no sofá da sala em frente à televisão e as duas entraram no quarto antes que aquela inimaginável oportunidade deixasse de ser real. Não sabiam se se aproximavam dela; se falavam alguma coisa; se chamavam alguém....acabaram sentando também no chão do banheiro e chorando, as três ao mesmo tempo.
Hera estava de volta ao mundo das pessoas. Nas primeiras semanas a porta continuou destrancada e ela passou a receber a mãe e alguns amigos no seu quarto, entretanto ainda não tinha vontade de sair dele. Não falava muito, gostava de ficar deitada na cama olhando e ouvindo as pessoas conversarem. Observava os gestos, tentava sentir as emoções de cada um. Foram dez anos sem ver o mundo, sem ver tão de perto os seres humanos. Estava envelhecida, os cabelos quase todos brancos, muito destruída por fora também.
Decidiu se desfazer das caixas de papelão, dos jornais e das revistas. As paredes e o chão voltaram a ficar limpos. A luz entrou pela janela descoberta depois de tanto tempo. Se readaptou a tudo como se o início fosse ontem. Mas, em alguns momentos, se assustava com a quantidade de claridade, de informação, de gestos, vozes, sentimentos e queria novamente estar só, era uma sensação de nostalgia, como se existisse algo em sua vida que tivesse ficado incompleto.
Percebeu que não voltou a sentir amor, carinho, felicidade, tristeza......as pessoas não lhe causavam mais nenhuma emoção. Mas será que já causaram alguma vez?
Alguns meses depois, sentiu vontade de sair do quarto. Andou pelo apartamento que agora já não tinha mais nenhum sinal de sua existência, as suas coisas estavam lá, mas o cheiro era o de sua mãe. A televisão da sala estava ligada. Ela passou em direção à porta da rua, mas o som estava tão alto para D. Rita escutar da cozinha enquanto preparava o almoço, que ela olhou para o aparelho moderno de tela plana, diferente daquele de dez anos atrás e parou intrigada. Uma imagem lhe pareceu familiar, era um homem bonito de uns trinta e poucos anos caminhando pela rua. A câmera foi fechando no rosto do homem até tomar a tela inteira da TV. Hera, instantaneamente, lembrou daquela imagem. Era o mesmo homem, os mesmos olhos chorosos, as mesmas lágrimas, a mesma sensibilidade humana. No quarto, quando viu o homem na revista, tinha ficado tão fascinada com aquela imagem absurdamente rara, que não percebeu o óbvio: era um anúncio publicitário.
“O homem é ridículo. Creio ter descoberto a causa desse ridículo: é o equívoco, o erro prático, o engano colossal que pesa sobre a condição humana.” *
Hera desligou a TV e voltou para o seu quarto. Trancou a porta.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
SEM CABEÇA
Acabei de perder o caminho. Saí da rota. Olhei por um minuto para o lado e quando voltei estava sem ele.
Continuei caminhando assim mesmo. Estava escuro. Pisei em algo. Algo macio e duro ao mesmo tempo. Tirei os sapatos para sentir melhor. Encostei a sola do pé.......era uma cabeça. Com certeza era uma cabeça - A dele!
Tive vontade de chutar. Bater com o calcanhar. Aproveitar que estava frente a frente com a auto-suficiência em forma de cabeça e me vingar.
Lembrei do corpo que agora, longe daquela fria cabeça pensante, deveria estar acessível, disponível. Um corpo que sente, age e não pensa. Um corpo com uma cabeça perdida. Uma cabeça que não sustentava nenhum sentimento. Nem deixava que alguma parte do seu corpo sustentasse. Eu odiava essa cabeça!!
Saí à procura do corpo dele e o encontrei não muito longe. Finalmente ficamos a sós, eu e ele - o corpo sem cabeça. Com um gesto de corpo que sente, age e pensa, arranquei a minha cabeça e dei para ele.
E meu corpo, por ter ficado sem cabeça, passou a odiar o corpo dele.
2005 - Cordoba-Ar
Continuei caminhando assim mesmo. Estava escuro. Pisei em algo. Algo macio e duro ao mesmo tempo. Tirei os sapatos para sentir melhor. Encostei a sola do pé.......era uma cabeça. Com certeza era uma cabeça - A dele!
Tive vontade de chutar. Bater com o calcanhar. Aproveitar que estava frente a frente com a auto-suficiência em forma de cabeça e me vingar.
Lembrei do corpo que agora, longe daquela fria cabeça pensante, deveria estar acessível, disponível. Um corpo que sente, age e não pensa. Um corpo com uma cabeça perdida. Uma cabeça que não sustentava nenhum sentimento. Nem deixava que alguma parte do seu corpo sustentasse. Eu odiava essa cabeça!!
Saí à procura do corpo dele e o encontrei não muito longe. Finalmente ficamos a sós, eu e ele - o corpo sem cabeça. Com um gesto de corpo que sente, age e pensa, arranquei a minha cabeça e dei para ele.
E meu corpo, por ter ficado sem cabeça, passou a odiar o corpo dele.
2005 - Cordoba-Ar
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
INSTABILIDADE
Ontem sem tubo. Hoje, entubado novamente. Ontem nem mostrei aqui a minha felicidade, estava apreensiva. Hoje, mostro a minha tristeza, estou apreensiva.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
TERNURA III
Esta noite tive um sonho e você esteve nele. Eu fiz uma festa na minha casa que era grande, com um gramado e árvores e mesas e almofadas espalhadas pela grama. Você era um pouco mais velho. Alguns anos só. Eu era casada e você estava sozinho. Você me olhava com admiração. É tão bom ser observada por alguém que te admira! Você me admirava em todos os gestos. E eu podia imaginar em mim a veemência de seu entusiasmo. Tem tanto tempo que não me sinto assim. A festa estava completa dos meus amigos queridos, muitos, não os vejo faz tanto tempo. Algumas vezes quando chegávamos bem perto um do outro para falar algo, meu coração jorrava sangue pro corpo inteiro. E eu queria te beijar suavemente, como suavemente você me olha.
Em um momento maior que apenas aquele instante, encostei meu rosto no seu e senti o seu cheiro. Um cheiro de homem que só pensa em mim.
Uma bolha transparente de dentro pra fora e turva de fora pra dentro nos rodeou e me senti protegida com você. Eu via todas as pessoas como vultos, apesar da transparência. Grudei no seu corpo e você me beijou.
Acordei.... apaixonada.
2007
Em um momento maior que apenas aquele instante, encostei meu rosto no seu e senti o seu cheiro. Um cheiro de homem que só pensa em mim.
Uma bolha transparente de dentro pra fora e turva de fora pra dentro nos rodeou e me senti protegida com você. Eu via todas as pessoas como vultos, apesar da transparência. Grudei no seu corpo e você me beijou.
Acordei.... apaixonada.
2007
TERNURA II
O rapaz entrou com aquela caixa de papelão enorme. Não era tão pesada quanto parecia, dava pra carregar sozinho. Ele deixou o pacote no meio da sala, no local indicado por Clarice. Pegou as notas para ela assinar e, neste intervalo, respirou fundo, olhou a estante de livros e se esqueceu do tempo. Clarice ficou impressionada, tinha tantas outras coisas na sala para ele notar, computador com monitor de tela plana 17 polegadas, laptop aberto em uma mesa, cristaleira cheia de taças de cristal, TV de plasma, cachorro beagle misturado com poodle, mas os livros na estante de madeira branca chamaram muito mais a sua atenção. “Fernando Sabino”, ele falou. “Poxa, quantos livros! Acho tão bonito isso. Hoje em dia, os jovens não querem mais ler. É tão bom ver esses livros.”
Clarice sorriu, sem palavras. Olhou admirada para aquele rapaz e teve vontade de pegar o Sabino da estante e dar para ele, mas não teve ação.
Ele pegou as notas referentes à entrega que fez e agradeceu.
Ela viu, alguns segundos antes de fechar a porta, o derradeiro olhar do rapaz para a estante.
2007
Clarice sorriu, sem palavras. Olhou admirada para aquele rapaz e teve vontade de pegar o Sabino da estante e dar para ele, mas não teve ação.
Ele pegou as notas referentes à entrega que fez e agradeceu.
Ela viu, alguns segundos antes de fechar a porta, o derradeiro olhar do rapaz para a estante.
2007
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
TERNURA
Era um olhar tão significativo. Tinha tanta meiguice. Nenhum mal.
Lúcio tinha 3 anos. A formiguinha subiu na sua perninha.
- Olhe a formiguinha bonitinha, Lucinho. Isso que é uma formiguinha. Igual àquela da historinha.
Lúcio olhou feliz pra formiguinha que fazia cócegas em sua perninha.
De repente, ele parou. Fez uma cara de dor, depois de interrogação, olhou para a mãe e começou a berrar.
- O que foi, filhinho? Ai, meu Deus! A formiguinha te mordeu?
Um calombo vermelho cresceu na perna de Lúcio.
- Que formiguinha feia, né, Lucinho?
Lúcio olhou para a formiga que agora já estava em sua barriga e com seus dois dedinhos em forma de pinça arrancou e apertou a formiga com tanta força que os dedos ficaram vermelhos. Sentiu a raiva.
Parou de novo, olhou para a mãe e choramingou:
- Tudo que é bonitinho sempre vai ficar feinho, é, mainha?
Lúcio tinha 3 anos. A formiguinha subiu na sua perninha.
- Olhe a formiguinha bonitinha, Lucinho. Isso que é uma formiguinha. Igual àquela da historinha.
Lúcio olhou feliz pra formiguinha que fazia cócegas em sua perninha.
De repente, ele parou. Fez uma cara de dor, depois de interrogação, olhou para a mãe e começou a berrar.
- O que foi, filhinho? Ai, meu Deus! A formiguinha te mordeu?
Um calombo vermelho cresceu na perna de Lúcio.
- Que formiguinha feia, né, Lucinho?
Lúcio olhou para a formiga que agora já estava em sua barriga e com seus dois dedinhos em forma de pinça arrancou e apertou a formiga com tanta força que os dedos ficaram vermelhos. Sentiu a raiva.
Parou de novo, olhou para a mãe e choramingou:
- Tudo que é bonitinho sempre vai ficar feinho, é, mainha?
2007
domingo, 4 de janeiro de 2009
SORTE
Carlos é um homem bom. Estava passando por uma fase difícil. Não tinha trabalho. Não tinha dinheiro. Vendeu tudo o que tinha.
Sua irmã deixou ele colocar as suas coisas em caixas, guardar no quarto que tinha sido de sua mãe e dormir no sofá da sala. O quarto era uma suíte com varanda, mas estava cheio de roupas velhas, sapatos surrados, frascos de perfume e de esmalte vazios, todo tipo de bugigangas inutilizadas pelo tempo, que a irmã nunca conseguiu se desfazer. Ele, todas as noites, colocava o seu lençolzinho no sofá e, entre a poeira, com as costas encharcadas de suor, tentava parar de pensar em uma maneira de conseguir trabalhar e ter dinheiro.
Durante o dia, não sabia o que fazer. Algumas vezes, saía de carro, parava em frente à maré e esperava o tempo passar.
O tempo passava e ele não tinha uma televisão para se distrair, nem uma cama em um quarto para se deitar e apenas olhar para o teto e encher a cabeça de quietude. Não tinha dinheiro, nem paz. Tinha apenas vício no desespero.
Aos poucos, seu corpo adoeceu e ele não saía mais do sofá.
Agora, tinha uma justificativa para sua irmã continuar lhe sustentando. Faltavam-lhe forças para ir à luta mais uma vez. O mal-estar da humilhação esmurrava dentro dele.
Carlos, que homem bom! Mas, e a sorte?
Sua irmã deixou ele colocar as suas coisas em caixas, guardar no quarto que tinha sido de sua mãe e dormir no sofá da sala. O quarto era uma suíte com varanda, mas estava cheio de roupas velhas, sapatos surrados, frascos de perfume e de esmalte vazios, todo tipo de bugigangas inutilizadas pelo tempo, que a irmã nunca conseguiu se desfazer. Ele, todas as noites, colocava o seu lençolzinho no sofá e, entre a poeira, com as costas encharcadas de suor, tentava parar de pensar em uma maneira de conseguir trabalhar e ter dinheiro.
Durante o dia, não sabia o que fazer. Algumas vezes, saía de carro, parava em frente à maré e esperava o tempo passar.
O tempo passava e ele não tinha uma televisão para se distrair, nem uma cama em um quarto para se deitar e apenas olhar para o teto e encher a cabeça de quietude. Não tinha dinheiro, nem paz. Tinha apenas vício no desespero.
Aos poucos, seu corpo adoeceu e ele não saía mais do sofá.
Agora, tinha uma justificativa para sua irmã continuar lhe sustentando. Faltavam-lhe forças para ir à luta mais uma vez. O mal-estar da humilhação esmurrava dentro dele.
Carlos, que homem bom! Mas, e a sorte?
ISSO NÃO VAI SER UMA ORDEM
Minha gripe foi engolida a seco, mas da mesma maneira que um choro preso, continua aqui. E cada vez que passo horas no hospital, que fico sem comer direito, que a tristeza vai num fluxo pelo corpo, quando paro pra tentar relaxar, a gripe volta a ser maior e quer mandar em mim.
sábado, 3 de janeiro de 2009
SUSTENTAÇÃO
Ontem, quando estava quase dormindo, sentiu a cama tremendo levemente. Era o coração batendo tão forte que estremecia qualquer coisa que encostasse ao seu corpo. Tiroteio sem trégua. Sangue roxo. Nó nas tripas. Ouviu um grito e correu até a janela. Um estalo e sentiu uma dor aguda no olho direito. Caiu no chão do quarto de um golpe só. Estava sozinha em casa e não conseguiu se mexer. Um mal-estar horrível na mesma hora em que um líquido grosso escorreu pelo seu rosto, entrou pela boca, pelo nariz. Quase não podia respirar. Morreria sozinha naquele quarto. Faltavam três horas para ele chegar. Não, não iria agüentar tanto tempo. Queria a sua mãe. Ou o seu pai. Queria a sua salvação. O corpo parecia estar sem espírito ou sem forças para mantê-lo. Nada........era o nada alastrando o espaço. Foi ficando leve. Levaram os seus pesos de repente. Não façam isso. Não tirem o que a sustenta.
2006
* Ilustração "Capideiras" - Pati Woll
Clarice arranca fio por fio do seu cabelo. Pega com as pontas dos dedos cada um dos fios e sente as irregularidades de uma ponta a outra, segura com força e arranca da raiz. Faz isso diversas vezes com uma agonia incontrolável. Depois pega aquele fio arrancado e com as duas mãos continua sentindo as irregularidades.... até que acaba a graça daquele fio e ela o larga abandonado no ar, solto.
Volta desesperada atrás de outro. Por sorte, sua cabeça está cheia deles e todos irregulares.
Volta desesperada atrás de outro. Por sorte, sua cabeça está cheia deles e todos irregulares.
AINDA BEM QUE NÃO VIAJEI
Agora tudo ficou mais sério.......meu pai foi entubado.......e não é nada bom ver essa cena. E imaginar a angústia que ele deve estar sentindo, com um tubo na garganta, sem poder reagir, sedado (isso os médicos dizem). Deus ajude que ele esteja sedado realmente e não sofra............Deus ajude que ele saia logo disso.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
IT'S ONLY ROCK'N'ROLL
DOCE DE COGUMELO
½ quilo de cogumelo trazido da ilha, 2 latas de leite condensado e, finalmente, minha mãe ia fazer o tão prometido doce de cogumelo. Segundo ela, além de ser uma delícia, a viagem era das melhores.
Era final da tarde de um sábado....todos estavam reunidos na cozinha do apartamento. Parecia uma comemoração, minha mãe e meus amigos. Eu observava e adorava.
Estava com quatorze anos e me sentia o máximo – minha mãe fumava maconha, conversava sobre cinema, teatro, literatura, fazia faculdade de antropologia, era dona de um restaurante natural, namorava uma mulher e sabia fazer doce de cogumelo. Meus amigos adoravam a minha casa.
Eu tinha selecionado alguns discos para esse dia. Na época, escutávamos tudo o que Marcelo Nova mostrava no seu programa de rádio.
O doce ficou pronto, com cheiro de brigadeiro branco. Depois de esfriar, a panela começou a passar de mão em mão e a colher de boca em boca, menos pela minha.
Após algumas músicas e muita conversa, meus amigos resolveram sair do apartamento. O prédio ficava em frente ao mar e eles desceram para a praia. Eu fiquei em casa, olhando da varanda até eles sumirem na noite.
Já era madrugada quando escutei uma gritaria lá embaixo. Eles tinham voltado. A viagem não tinha sido tão doce na cidade. Um deles tinha visto um casal se agarrando atrás de uma banca de revista e pulou pra cima do homem e o atacou com socos e pontapés. Ninguém sabe o que ele viu ali. Largaram o homem todo ensangüentado, a mulher em prantos e fugiram para minha casa.
Desci.
Ele – o da viagem violenta – me abraçou chorando e me deu um beijo suave na boca.
Em segundos, já estavam dentro do carro, virando a esquina.
Não tive tempo de fazer nada, mas descobri que o doce de cogumelo não estava com leite condensado suficiente. Fiquei com um gosto amargo na boca.
2006
IT'S ROCK'N'ROLL
Um amigo de minha mãe soube que eu gostava de rock’n’roll e, aproveitando que a pessoa que mais andava comigo era um sósia de Johnny Rotten, resolveu me presentear com dois vinis importados do Sex Pistols e mais um do PIL. Nenhum dos meus amigos tinha nem sequer gravação daqueles discos. Era um sonho. Resolvi fazer uma festa de boas-vindas aos meus novos companheiros.
A casa ficou cheia, todos os meus amigos queriam ver de perto as raridades.
Quando a festa estava acabando e meus disquinhos finalmente foram descansar, percebi que dois deles não estavam em lugar nenhum. Haviam sido roubados.
Muitas pessoas não estavam mais lá. As que restaram - as mais íntimas - me consolaram dizendo que alguém deveria tê-los pegado emprestado e que os devolveria com certeza.
De manhã, telefonei para cada uma delas. Com voz de choro informei o sumiço e fiz uma campanha de não-sobrevivência sem meus discos de volta.
Duas semanas depois, recebi o telefonema de um amigo e a informação de que uma pessoa anônima tinha resolvido devolver os discos porque ficou com muita pena de mim - não pensavam que eu iria ficar tão triste. Agora, eu era como eles: puro rock´n´roll.
E o anônimo? Indubitavelmente,.....Johnny Rotten.
2006
½ quilo de cogumelo trazido da ilha, 2 latas de leite condensado e, finalmente, minha mãe ia fazer o tão prometido doce de cogumelo. Segundo ela, além de ser uma delícia, a viagem era das melhores.
Era final da tarde de um sábado....todos estavam reunidos na cozinha do apartamento. Parecia uma comemoração, minha mãe e meus amigos. Eu observava e adorava.
Estava com quatorze anos e me sentia o máximo – minha mãe fumava maconha, conversava sobre cinema, teatro, literatura, fazia faculdade de antropologia, era dona de um restaurante natural, namorava uma mulher e sabia fazer doce de cogumelo. Meus amigos adoravam a minha casa.
Eu tinha selecionado alguns discos para esse dia. Na época, escutávamos tudo o que Marcelo Nova mostrava no seu programa de rádio.
O doce ficou pronto, com cheiro de brigadeiro branco. Depois de esfriar, a panela começou a passar de mão em mão e a colher de boca em boca, menos pela minha.
Após algumas músicas e muita conversa, meus amigos resolveram sair do apartamento. O prédio ficava em frente ao mar e eles desceram para a praia. Eu fiquei em casa, olhando da varanda até eles sumirem na noite.
Já era madrugada quando escutei uma gritaria lá embaixo. Eles tinham voltado. A viagem não tinha sido tão doce na cidade. Um deles tinha visto um casal se agarrando atrás de uma banca de revista e pulou pra cima do homem e o atacou com socos e pontapés. Ninguém sabe o que ele viu ali. Largaram o homem todo ensangüentado, a mulher em prantos e fugiram para minha casa.
Desci.
Ele – o da viagem violenta – me abraçou chorando e me deu um beijo suave na boca.
Em segundos, já estavam dentro do carro, virando a esquina.
Não tive tempo de fazer nada, mas descobri que o doce de cogumelo não estava com leite condensado suficiente. Fiquei com um gosto amargo na boca.
2006
IT'S ROCK'N'ROLL
Um amigo de minha mãe soube que eu gostava de rock’n’roll e, aproveitando que a pessoa que mais andava comigo era um sósia de Johnny Rotten, resolveu me presentear com dois vinis importados do Sex Pistols e mais um do PIL. Nenhum dos meus amigos tinha nem sequer gravação daqueles discos. Era um sonho. Resolvi fazer uma festa de boas-vindas aos meus novos companheiros.
A casa ficou cheia, todos os meus amigos queriam ver de perto as raridades.
Quando a festa estava acabando e meus disquinhos finalmente foram descansar, percebi que dois deles não estavam em lugar nenhum. Haviam sido roubados.
Muitas pessoas não estavam mais lá. As que restaram - as mais íntimas - me consolaram dizendo que alguém deveria tê-los pegado emprestado e que os devolveria com certeza.
De manhã, telefonei para cada uma delas. Com voz de choro informei o sumiço e fiz uma campanha de não-sobrevivência sem meus discos de volta.
Duas semanas depois, recebi o telefonema de um amigo e a informação de que uma pessoa anônima tinha resolvido devolver os discos porque ficou com muita pena de mim - não pensavam que eu iria ficar tão triste. Agora, eu era como eles: puro rock´n´roll.
E o anônimo? Indubitavelmente,.....Johnny Rotten.
2006
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
CORRA KARLA CORRA
Gostaria de que a primeira coisa que escrevesse no ano de 2009 fosse muito boa, mas ...........................................................juro que me esforço, mas.............................
Nunca vi uma família pra ficar doente como a minha. Das duas partes. A de meu pai e a de minha mãe. No início não percebia direito, mas já sentia a frequência e a aproximação, inclusive minha, com esse clima de doença e a insegurança emocional que fica de sequela. Depois de um tempo fui achando que as doenças constantes seriam para chamar a atenção, mas agora consigo entender que pode ser uma fraqueza emocional mesmo. Toda a família é feita de pessoas sensíveis demais ao mundo e reagem adoecendo o corpo. Só que isso acabou virando uma mania......o combustível de alguns. Doenças simples se transformam em tragédias dramáticas e duram, duram, duram dias, e se transforam em doenças fatais que depois do desepero que deixam em todos, não eram absolutamente nada. Tem uma tia que só de passar na frente da janela, fica gripada. E aí começa um concurso pra ver quem está mais doente. Nada consciente, é claro! No momento, por exemplo, meu pai que está há cinco anos de cama com uma depressão crônica e que por não se alimentar, vive tendo diversas doenças recorrentes, foi internado no hospital dia 30/12 pra cuidar de mais uma pneumonia. Eu que já estava saindo da terceira gripe em dois meses, fiquei com ele no hospital, sem casaco, numa semi-uti gelada de doer os ossos. Fiquei gripadíssima pela quarta vez. Passei uma noite péssima em casa, com dor de garganta, dor no corpo, febre. Minha mãe( a rainha das doenças) veio "cuidar" de mim. Só que ela estava há uma semana com hérnia de disco, sem conseguir nem andar e tomando um monte de remédio. Passamos o reveillon e 03 horas da manha, ainda gripada, voltei pro hospital, meu pai tinha sido transferido pra UTI. Quando acordei, minha mãe tinha ido 8 vezes no banheiro e estava vomitando e com dor de cabeça. .........................................................Pois é, quem venceu? Só sei que minha gripe teve que ser engolida a seco.
O pior é que a doença se tornou tão frequente na vida dessas pessoas (eu estou me esforçando pra não seguir esse padrão. Oh coisa difícil!) que fui mudando o meu sentimento de pena do sofrimento do outro pra raiva do sofrimento do outro..................................quando alguém da família fala que está com uma simples dorzinha de cabeça, já quero sair correndo.....................
E esse período de fim ano seria o tempo que teria pra descansar, pra cuidar das minhas coisas...........................................porque não viajei ? correndo...........................
Nunca vi uma família pra ficar doente como a minha. Das duas partes. A de meu pai e a de minha mãe. No início não percebia direito, mas já sentia a frequência e a aproximação, inclusive minha, com esse clima de doença e a insegurança emocional que fica de sequela. Depois de um tempo fui achando que as doenças constantes seriam para chamar a atenção, mas agora consigo entender que pode ser uma fraqueza emocional mesmo. Toda a família é feita de pessoas sensíveis demais ao mundo e reagem adoecendo o corpo. Só que isso acabou virando uma mania......o combustível de alguns. Doenças simples se transformam em tragédias dramáticas e duram, duram, duram dias, e se transforam em doenças fatais que depois do desepero que deixam em todos, não eram absolutamente nada. Tem uma tia que só de passar na frente da janela, fica gripada. E aí começa um concurso pra ver quem está mais doente. Nada consciente, é claro! No momento, por exemplo, meu pai que está há cinco anos de cama com uma depressão crônica e que por não se alimentar, vive tendo diversas doenças recorrentes, foi internado no hospital dia 30/12 pra cuidar de mais uma pneumonia. Eu que já estava saindo da terceira gripe em dois meses, fiquei com ele no hospital, sem casaco, numa semi-uti gelada de doer os ossos. Fiquei gripadíssima pela quarta vez. Passei uma noite péssima em casa, com dor de garganta, dor no corpo, febre. Minha mãe( a rainha das doenças) veio "cuidar" de mim. Só que ela estava há uma semana com hérnia de disco, sem conseguir nem andar e tomando um monte de remédio. Passamos o reveillon e 03 horas da manha, ainda gripada, voltei pro hospital, meu pai tinha sido transferido pra UTI. Quando acordei, minha mãe tinha ido 8 vezes no banheiro e estava vomitando e com dor de cabeça. .........................................................Pois é, quem venceu? Só sei que minha gripe teve que ser engolida a seco.
O pior é que a doença se tornou tão frequente na vida dessas pessoas (eu estou me esforçando pra não seguir esse padrão. Oh coisa difícil!) que fui mudando o meu sentimento de pena do sofrimento do outro pra raiva do sofrimento do outro..................................quando alguém da família fala que está com uma simples dorzinha de cabeça, já quero sair correndo.....................
E esse período de fim ano seria o tempo que teria pra descansar, pra cuidar das minhas coisas...........................................porque não viajei ? correndo...........................
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