sábado, 3 de janeiro de 2009

SUSTENTAÇÃO

Ontem, quando estava quase dormindo, sentiu a cama tremendo levemente. Era o coração batendo tão forte que estremecia qualquer coisa que encostasse ao seu corpo. Tiroteio sem trégua. Sangue roxo. Nó nas tripas. Ouviu um grito e correu até a janela. Um estalo e sentiu uma dor aguda no olho direito. Caiu no chão do quarto de um golpe só. Estava sozinha em casa e não conseguiu se mexer. Um mal-estar horrível na mesma hora em que um líquido grosso escorreu pelo seu rosto, entrou pela boca, pelo nariz. Quase não podia respirar. Morreria sozinha naquele quarto. Faltavam três horas para ele chegar. Não, não iria agüentar tanto tempo. Queria a sua mãe. Ou o seu pai. Queria a sua salvação. O corpo parecia estar sem espírito ou sem forças para mantê-lo. Nada........era o nada alastrando o espaço. Foi ficando leve. Levaram os seus pesos de repente. Não façam isso. Não tirem o que a sustenta.

2006
* Ilustração "Capideiras" - Pati Woll

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