Entrei no avião de São Paulo pra Salvador mesmo depois de meu filho ter me ligado e ter dito: - Minha mãe, você vem hoje mesmo? Não venha não. Tá chovendo muito. Não venha não!
Passei o dia ligando pra saber se a chuva tinha parado, se o aeroporto estava aberto.........ninguém queria me assustar, mas ele continuava me dizendo para não viajar.
Normalmente para viajar tomo dramin b6 e rivotril 0,25 - tenho pavor de avião, mas como não tinha tomado remédio na ida e tinha sido uma viagem relativamente tranqüila (avião nunca é tranqüilo pra mim) resolvi só tomar o dramin para o enjôo. Estava com uma amiga do trabalho, daquelas que entram no avião e dormem o vôo todo, tínhamos ido acompanhar dois comerciais.
O avião decolou e eu, nervosíssima como sempre, notei alguns movimentos estranhos, tipo, algumas alternâncias repentinas de altitude, mas pensei que eram minhas paranóias "avionáticas". Na verdade, estava realmente sentindo alguma coisa muito estranha no ar.
Com mais ou menos 50 minutos de vôo, o piloto começou a falar. Todas as vezes que o piloto resolve falar alguma coisa, fico desesperada, dessa vez tive motivo real para isso:
- Senhores passageiros a Gol preza sempre pela segurança dos seus passageiros, por esse motivo estamos fazendo um pouso de emergência no aeroporto de Confins, pois detectamos um problema na aeronave.
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Nesse exato momento,literalmente enfiei um rivotril sublingual na boca e desesperada continuei ouvindo:
- Resolvemos fazer esse pouso em Confins pois correríamos algum risco se continuássemos com o vôo até Salvador.
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- Estamos em processo de aterrissagem e dentro de aproximadamente 25 minutos chegaremos no aeroporto de confins. Esperamos contar com a compreensão de todos.
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Foi mais ou menos isso que ele disse, ou melhor, foi isso que ficou marcado de uns dos piores momentos que vivi em minha vida.
Chamei a aeromoça tensa que passava rapidamente e perguntei se ela tinha certeza de que conseguiríamos pousar.
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Ela me olhou com uma cara forçada de calma e disse que iríamos pousar sim e que estávamos fazendo esse pouso exatamente para evitar maiores problemas.
Sim????? Mas se não conseguiríamos chegar até Salvador quem poderia garantir que chegaríamos até Belo Horizonte sem o avião cair ou explodir no ar ou sei lá mais o que.
Ninguém dava nem um pio. Silêncio total.
Eu disse para minha amiga que se chegássemos vivas em terra, eu ia pra Salvador a pé se fosse necessário, mas não voaria mais.
Chegamos..... depois de minutos intermináveis. Intermináveis mesmo, não saem da minha cabeça.
- Senhores passageiros, pedimos que continuem sentados em suas poltronas até que possamos informar se continuaremos nessa aeronave ou se precisaremos trocar de aeronave. Vamos aguardar a equipe de manutenção.
Que continuar sentada que nada!! Queria sair dali correndo.
Fui conversar com a aeromoça e explicar que tinha pavor de avião e não ia voar nem naquela mesma aeronave nem em nenhuma outra. Liguei pra casa em prantos e disse que ia ficar em Belo Horizonte. Imagino o susto que tomaram quando receberam meu telefonema uma hora antes do horário de chegada. Tive também que fazer uma sessão de terapia por telefone:
- Andréa, me ajude, não consigo sair daqui. Não consigo voltar pra casa de avião. Agora que sobrevivi não vou correr risco de novo. (nesse momento já sabia que íamos trocar de aeronave, aliás nessa hora, todos já estavam dentro da nova aeronave me esperando decidir se iria ou não voar para Salvador.)
- Mas me diga uma coisa- ela me analisava - qual é o medo? É da morte? Não adianta ficar com medo. Você tem que entrar no avião sim. Tome outro rivotril e entre nesse avião. Você vai ficar aí sozinha pra voltar como? Seu filho está te esperando. Não tem jeito. Pode se morrer em qualquer lugar. Entre nesse avião e volte pra sua casa.
Tomei outro rivotril e me colocaram na primeira fila junto com minha amiga. Disseram que o piloto estava disponível para conversar comigo. Fui na cabine e fiz mil perguntas, que ele me respondeu com bastante calma, mas em nenhum momento me esclareceu o que foi que houve com a outra aeronave e o nível de risco que tínhamos corrido de verdade.
Eu não tive outra alternativa, engoli o pavor e subi aos ares novamente.
Obrigada Deus pela nossa sobrevivência!!